30 de abr. de 2009

Outdoor life

Yosemite é, além de um dos pólos de escalada mais completos do mundo, o ponto máximo da escalada clássica, e El Capitan, uma gigantesca parede de granito. ergue-se quase 1.200 metros acima do vale, uma montanha cinzenta e maciça como um navio de guerra, de onde se enxergam minúsculos escaladores pendurados em sua encosta, que de longe, parecem imóveis, como se todo seu esforço sumisse ao ser admirado à distância.

No ponto mais duro de uma das rotas mais cascas-grossas do mítico El Cap, a 825 metros de altura, Steph Davis está se puxando rocha acima, com os pés meio congelados, quando seu pé direito escorrega e ela cai dez metros. Sua corda estala ao se estender, evitando uma fatalidade e deixando-a balançando no vazio. Ela grita para Cybele Blood, recrutada para fazer sua segurança, para dizer que não está ferida. Só irritada. "Ótimo", ela resmunga para si, sabendo que só há uma coisa a fazer: continuar subindo.

Steph está no oitavo dia de sua tentativa de se tornar a primeira mulher a fazer a escalada livre do paredão Salathé, uma rota na face sudoeste do El Cap - e, segundo seus cálculos, ela já devia ter terminado. Mas, desde o começo, nada tinha saído de acordo com o planejado.

Pra começar, o tempo. Alternando entre quente de matar e gelado com vento, era o tipo de condição climática que pode ficar feia bem depressa - como aconteceu quase um ano antes, quando uma tempestade de neve assolou o El Cap, prendendo dois escaladores japoneses que morreram congelados antes que o resgate os alcançasse. Steph não está equipada para um tempo assim. Ela está usando tênis leves e shorts de escalada, uma primeira camada de roupa longa e uma jaqueta fina. Seu único equipamento é um saco de dormir leve, uma cafeteira portátil e pouca comida.

O maior problema de Steph, no entanto, é a possibilidade de talvez não ser capaz de encarar o último e punk trecho do Salathé, conhecido como paredão Enduro. É um mau sinal, já que a principal vantagem dessa super escaladora não é tanto o talento atlético ou a técnica impecável, mas a força de vontade e o estilo de trabalho metódico e cerebral. Essa mulher de 33 anos treinou sozinha o verão todo para essa empreitada. Mas liderar uma ascensão de nível 5.13 - que é mais ou menos como subir feito uma aranha pela lateral de um arranha-céu, com agarras para se segurar do tamanho de uma lentilha - é outra história, e Steph tem caído. Bastante.

Diferentemente de uma escalada tradicional, em que não há problema em se apoiar em cordas enquanto se sobe um paredão, na escalada livre é preciso usar somente as mãos e os pés para galgar as rachaduras e falhas naturais da rocha. O equipamento de proteção só está lá para segurar o atleta em caso de queda, assim como a pessoa responsável por sua segurança. Cair é, no mínimo, inconveniente. Toda vez que se cai de um paredão, é preciso voltar ao início do estágio e começar tudo de novo.

Steph tem estado empacada nessa parte o dia todo. A luz do dia está acabando e ela está fadada a passar a noite em uma saliência de granito não muito mais larga que uma prancha de surf. Detalhe: com um precipício de 825 metros logo a seu lado. Um pensamento passa por sua cabeça: Por que não desistir de uma vez dessa roubada e descer?

STEPH DAVIS DEU DURO A VIDA TODA EM BUSCA DE SEU SONHO: VENCER ALGUNS DOS PAREDÕES MAIS DIFÍCEIS DO PLANETA. PARA ISSO, ABANDONOU A FACULDADE, ENFRENTOU A FAMÍLIA, TREINOU FEITO DOIDA, LUTOU CONTRA OS PRÓPRIOS MEDOS. A RECOMPENSA? VER O MUNDO DE CIMA DAS MONTANHAS MAIS FASCINANTES DA TERRA

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